
Como todas as doenças, também o cancro colorretal está envolto de mitos e meias verdades.
Muitas vezes, o que ouvimos sobre a doença tem pouca base científica e provem de fontes informais.
Ainda assim, estas informações acabam por moldar os nossos comportamentos, fazendo com que tomemos decisões pouco informadas, como adiar o rastreio ou ignorar sinais de alerta.
Neste artigo, a médica Maria de Deus Fernandes, especialista em Medicina Geral e Familiar, ajuda-nos a desmontar alguns dos mitos mais comuns em torno do cancro colorretal.
MITO: "O cancro colorretal só atinge pessoas mais velhas"
Embora a idade seja um dos principais fatores de risco — sendo mais comum a partir dos 50 anos — nos últimos anos, tem-se observado um aumento significativo dos casos em pessoas mais jovens, especialmente em países ocidentais.
MITO: “Não tenho casos na família, por isso, estou a salvo”
É um erro comum pensar que o risco só existe quando há casos na família. A verdade é que a maioria dos casos de cancro colorretal (cerca de 85%) ocorre em pessoas sem antecedentes familiares. Embora o histórico familiar aumente o risco, outros fatores como hábitos alimentares, estilo de vida ou doenças inflamatórias do intestino são igualmente importantes para o desenvolvimento deste cancro.
MITO: “Se tiver cancro, vou sentir sintomas”
Este é um dos maiores perigos da doença. Numa fase inicial, é comum não haver sintomas ou, quando existem, serem muito inespecíficos, como alterações no trânsito intestinal, desconforto abdominal ou cansaço. Os sinais mais evidentes, como sangue nas fezes, tendem a surgir quando o cancro pode já estar mais avançado. Isso reforça a importância dos rastreios regulares, mesmo na ausência de sintomas.
MITO: “Mesmo que seja detetado cedo, o cancro colorretal não tem cura”
Quando diagnosticado nas fases iniciais, as taxas de cura podem atingir os 90%. Infelizmente, muitas pessoas só descobrem a doença numa fase avançada, o que torna o tratamento mais complexo e menos eficaz. Por isso, os exames de rastreio são essenciais mesmo na ausência de sintomas, permitindo um diagnóstico precoce.
MITO: “Só com colonoscopia é que se pode rastrear”
A colonoscopia não é o único exame disponível. Para muitas pessoas, o primeiro passo no rastreio é o teste PSOF — Pesquisa de Sangue Oculto nas Fezes. Este é um teste simples, não invasivo, que pode ser feito em casa e que permite detetar a presença de pequenas quantidades de sangue nas fezes.
MITO: “Se o meu teste PSOF der positivo, tenho cancro”
Um resultado positivo no teste de sangue oculto nas fezes não é um diagnóstico de cancro, mas sim um sinal de que é preciso investigar mais. O teste pode detetar pequenas quantidades de sangue nas fezes que podem ter várias causas, como hemorroidas, inflamações ou pólipos, que não são necessariamente cancerígenos. O passo seguinte é, normalmente, a realização de uma colonoscopia para perceber a origem do sangramento.
MITO: “Pólipos são sempre sinal de cancro”
A presença de pólipos não significa, por si só, que a pessoa vai desenvolver cancro. A maioria dos pólipos (adenomatosos) cresce lentamente e pode nunca tornar-se maligna. No entanto, como alguns podem evoluir ao longo dos anos, a sua deteção e remoção precoce representa uma importante estratégia de prevenção.
MITO: “Se o meu exame estiver bem, não preciso repetir”
Mesmo que o PSOF ou Colonoscopia não detete alterações, isso não garante proteção para sempre. O tempo entre exames depende do risco individual e dos resultados anteriores. Aconselhe-se com o seu médico para perceber qual a regularidade com que deve fazer o rastreio.
Este artigo foi originalmente publicado no Jornal Correio da Manhã